O que está reservado para o futuro da advocacia?

 

O futuro da advocacia é algo que te preocupa ou te empolga?

De fato, o tema desperta muita discussão e as opiniões sobre a questão são as mais diversas. Mas, algo é certo: o trabalho do advogado tem se transformado e algumas tendências, inevitavelmente, precisam ser seguidas para não correr o risco de se estar desatualizado. Por que afirmamos isso? Devido ao uso da inteligência artificial, da ciência de dados e da computação cognitiva já ser algo recorrente na advocacia. Isso quer dizer que os advogados deixarão de ser necessários? Não, não é por aí!

Embora exista o receio de que o trabalho humano será substituído por robôs, o que precisa ficar muito claro é que esses robôs são desenvolvidos para contribuir de alguma forma com o trabalho de profissionais de advocacia. Ou seja, para desempenhar tarefas demoradas, repetitivas e que impedem os profissionais do Direito de dedicar mais tempo às tarefas de maior valor. Em parte,  porque precisam cuidar quando o sistema de um Tribunal estará funcionando para enviar uma petição. Quer situação mais incômoda do que essa?

Então, pense conosco: quanto um advogado ganha se não precisar ficar monitorando o sistema do Judiciário para poder enviar uma peça jurídica online? E também na economia que é não precisar contratar pessoas somente para fazer o operacional, mas, apenas um serviço de peticionamento unificado? Esse é o principal ponto do futuro da advocacia: a agilidade que profissionais de advocacia ganharão com tudo o que está por surgir de novidades e automações direcionadas ao ecossistema da Justiça!

O futuro da advocacia já não estaria acontecendo, hoje?

Esse ganho, em tese, já ocorre. Basta ver os diversos softwares, plataformas e aplicativos que estão disponíveis para uso na área jurídica. O que leva à pergunta: o futuro da advocacia já não estaria acontecendo, hoje? Estando ele acontecendo, já não estaríamos acostumados as suas facilidades, considerando que elas já estão inseridas na rotina? Eis um exemplo: o certificado digital, que permite assinar documentos eletronicamente, sem que seja necessário apresentar-se pessoalmente para fazê-lo. Sem um algoritmo inteligente o suficiente para proteger, identificar e decodificar as informações de cada pessoa que detém uma certificação, muitos advogados teriam de continuar indo a Tribunais e outros órgãos para assinar documentos físicos. Documentos, esses, que continuariam se acumulando nas comarcas. Mediante esse cenário, a realidade atual é bem mais interessante, não?

sem que seja necessário apresentar-se pessoalmente para fazê-lo. Sem um algoritmo inteligente o suficiente para proteger, identificar e decodificar as informações contidas na certificação, muitos advogados teriam de continuar indo a Tribunais e outros órgãos para assinar documentos físicos. Mediante esse cenário, a realidade atual é bem mais interessante, não?

Existem muitos outros exemplos como esse, porém, expor alguns poucos já é suficiente para despertar o entendimento de que o futuro da advocacia já começou e, mais que isso, já foi aceito. O que está por vir é só a evolução do que já se iniciou. A questão, agora, é preparar-se para os novos tempos. Saber o que fazer para não ser surpreendido.

Uma visão importante é a de que o futuro da advocacia existe somente se houver a profissão advocacia no futuro. Esse é o pensamento exposto pelo advogado Felipe Baptista Luz no ADV Conference de 2019. De acordo com ele, a inovação deve ser um elemento motivador de mudanças.

Como o escritório de advocacia pode enfrentar este novo momento?

Muitas tecnologias já surgiram (Google, planilhas, armazenamento em nuvem, etc.) e são usadas constantemente. Um exemplo simples e prático que confirma isso é de como se dá a relação do cliente com profissionais de Direito. Na década de 1990, quando o cliente necessitava de determinadas informações, consultar um profissional de advocacia era a única forma de consegui-las. Por isso, tudo o que o profissional orientava, era tomado como verdade. Hoje, os clientes recorrem à internet para se certificar de que a orientação que recebem é a melhor, de fato.

Dessa maneira, a única conclusão possível é de que a advocacia é extramente vulnerável às mudanças tecnológicas. Especialmente quando se olha para as estatísticas. Há mais de 100 mil bacharéis de Direito graduando-se anualmente. Apenas 25% deles obtêm o registro profissional. Existe um profissional da área do Direito para cada 209 brasileiros. Sendo assim, há maior probabilidade de profissionais de advocacia sentirem mais os impactos das mudanças tecnológicas no Brasil do que em outras partes do mundo.

Qual é alternativa, então? Na visão do advogado Felipe Baptista Luz, é os próprios profissionais tornarem-se protagonistas da transformação. Para isso, é necessário que utilizem-se de alguns conceitos.

1. Open innovation

O uso desse conceito depende de abertura, já que a inovação não acontece em ambientes que estão fechados para a sua inserção. Para inovar, é preciso expor-se às inovações externas. Ainda, compartilhar com quem está de fora as inovações implementadas dentro do escritório de advocacia. Com isso, verificar se elas realmente funcionam.

Portanto, é necessário propagar tudo o que se aprende, todo o conhecimento adquirido e tudo o que é realizado para inspirar outras pessoas, mas, também, buscar inspiração. Com o tempo, é possível aos escritórios de advocacia alcançarem um outro patamar e estarem a frente de discussões relevantes para a sociedade.

Entretanto, isso requer um olhar para além do viés sobre qual será o retorno perante o investimento necessário. Exige uma visão mais estratégica sobre o posicionamento do escritório. Onde quer chegar? Como quer ser reconhecido? Quais portas quer abrir para entrar?

2. Adotar o diferente

Inovação só se faz quando se adota o diferente. Fazer sempre igual ou fazer sempre igual aos concorrentes – que, nesse caso, não são somente os demais profissionais da área do Direito, mas, também,  outras profissões e profissionais do exterior e ferramentas tecnológicas -, torna maior a dificuldade de fazer coisas diferentes no futuro.

Sendo assim, procurar o que existe e pode ser feito de uma forma nova é fundamental para inovar no escritório de advocacia.

3. Disposição para errar

Em toda inovação, há decisões e estratégias que podem dar errado. Contudo, o erro é aprendizado e não um motivo para desistir de inovar. Há muitas possibilidades e uma delas pode dar certo e contribuir com o trabalho de profissionais de advocacia.

No entanto, depende da adoção de inovação e novos conceitos nos escritórios de advocacia, com foco na elaboração de uma nova advocacia, voltada para o futuro.

4. Conhecer diferentes modelos de trabalho

Algo a que muitas pessoas estão habituadas é a ter horário para iniciar o expediente de trabalho, almoçar e encerrar as atividades. Essa vida regrada e com hora para tudo mudou. Desde que a internet passou a fazer parte do dia a dia de cada um, essa rotina é outra. Há novas configurações de trabalho. Inclusive no meio advocatício. Isso quer dizer que profissionais de advocacia não precisam mais estar no escritório para atender clientes e escrever petições. Podem estar em casa e fazer uma reunião em salas virtuais. Essa é uma facilidade que aumentou a mobilidade e a flexibilidade de profissionais da área jurídica e que deve se acentuar conforme o futuro da advocacia evolui.

5. Valorizar o trabalho compartilhado

O mundo está cada vez mais colaborativo. Foi-se o tempo em que cada pessoa trabalhava fechada em uma sala. Também, em que mantinha em segredo as estratégias que estava adotando para obter sucesso. Hoje, tudo isso é compartilhado, por todos, independentemente da área de atuação. Advogados que compartilham boas práticas ganham notoriedade, admiração e constroem uma boa rede de networking. Pode parecer que não, mas isso também atrai clientes. As pessoas, em geral, tendem a olhar com bons olhos quem é engajado e comprometido com a profissão e compartilha conhecimento. Então, quem tiver disposição para contribuir para uma construção conjunta do futuro da advocacia, deve fazê-lo sem receio. Até porque, dificilmente voltaremos ao modus operandi de anteriormente, onde era cada um por si e nenhum por todos.

6. Aprender com outras experiências

O ambiente do Direito é visto como muito conservador, apesar de algumas mudanças já estarem ocorrendo. Contudo, por muito tempo, tudo era feito da mesma forma. Assim, a impressão que ficava, à primeira vista, é de que havia pouco espaço para novos formatos de trabalho. Com o futuro da advocacia cada vez mais presente, um novo movimento de inserção de boas práticas de outras áreas começou a ser feito, o que é muito positivo. O mundo espera tornar-se um ambiente mais colaborativo. Nesse novo ciclo, o que funciona bem para uma empresa que atua em um ramo totalmente diferente do jurídico pode, muito bem, dar certo em um escritório de advocacia. A grande questão é ter a visão de que novas e boas práticas podem ser adotadas para alcançar uma evolução ainda maior.

Há muito mais coisas, ainda, para relacionar com o futuro da advocacia. Até porque, os avanços não param. Novidades sempre surgem. É preciso acompanhar o que vem por aí e pode impactar na forma de advogar. Afinal, ainda há muitos desafios na advocacia. A websérie Tecnologia, Gestão e Desafios na Advocacia aborda alguns dos que já existem e outros que podem surgir. É possível assistir gratuitamente e online.

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