Duas perguntas: quem deve fazer a gestão de carreira é o próprio advogado? Ou o escritório de advocacia em que o profissional atua é que deve ter um plano elaborado para a equipe?
De fato, alguns advogados esperam que os escritórios desenvolvam um plano capaz de alavancar sua carreira. Outros, assumem a gestão da própria carreira. Ou seja, responsabilizam-se pelas conquistas e pelas perdas vividas ao longo da profissão.
O grande ponto é que, mesmo que o escritório possua um plano de carreira para os advogados que fazem parte da equipe, quem constrói a trajetória dentro do escritório – ou independentemente dele – é o profissional do Direito.
Portanto, a gestão de carreira é algo que depende do próprio advogado administrar, não importando se o escritório detém um plano de carreira para quem compõe a equipe ou não. O raciocínio, nesse caso, é muito simples: se o advogado que atua em escritório esforçar-se mais que o suficiente para atender o disposto no plano de carreira, provavelmente alcançará o reconhecimento desejado. Da mesma forma, o advogado que é gestor da própria carreira pode empenhar-se e chegar ao seu objetivo.
Em qualquer situação, isso já é fazer a gestão de carreira. A questão é dominar as ferramentas certas para que essa gestão seja assertiva.
O que é preciso para fazer uma boa gestão de carreira
As decisões profissionais são tomadas de maneira mais correta quando o advogado conhece a si mesmo e o mercado em que espera atuar. Nesse sentido, exercícios de autoconhecimento são fundamentais. Sem isso, não há como definir um caminho a seguir. Então, o que é preciso para fazer uma boa gestão de carreira é encontrar meios para definir:
1. Valores pessoais
É possível identificar os valores pessoais a partir de três perguntas:
- O que lhe é mais importante?
- Quais os valores que baseiam suas atitudes?
- Qual a razão de fazer o que faz?
As respostas a que chegar nortearão o caminho pelo qual seguir, porque essa é a natureza das ações. É o que motivará a prática advocatícia a ser mais autônoma do que dependente de decisões alheias, por exemplo, caso autonomia seja um valor importante.
2. Propósito
O propósito também é algo que contribui para nortear o caminho para o qual conduzir a carreira. Embora pareça difícil defini-lo, encontrá-lo depende mais de uma reflexão:
- Qual é a inspiração para acordar todos os dias e ir para o trabalho?
- Por que o Direito tornou-se a escolha profissional?
Um erro comum é acreditar que o propósito precisa ser algo grandioso. A fundadora do Instituto Feliciência, Carla Furtado, lembra que o propósito não precisa ser mudar o mundo, a exemplo da Madre Teresa de Calcutá. Pelo contrário, definir algo que impacte positivamente na vida familiar ou da sociedade que há no entorno já é suficiente como propósito.
3. Visão da profissão
A visão pode ser definida como o lugar para o qual os valores e o propósito conduzirão a carreira. É como se fosse o pico da montanha no qual se espera chegar ao fim da escalada. Dessa maneira, as questões a serem respondidas para definir claramente uma visão são:
- Aonde se quer chegar?
- Que evidências identificam que se chegou onde queria?
Esse é o momento de pensar grande. De tornar a meta real para ser alcançada com a realização de um bom planejamento, assunto do último tópico.
A falta de clareza sobre a visão pode fazer com que o advogado nunca alcance a satisfação com a advocacia. De nada adianta pensar a gestão de carreira se for para ela não conter uma visão e ser ineficiente nesse ponto.
4. Pontos fortes
Em um futuro não muito distante, todas as pessoas serão contratadas por suas habilidades comportamentais. Isso não quer dizer que as técnicas não contarão. Significa, apenas, que as primeiras se sobressairão às segundas.
Então, para já desenvolver o que o futuro próximo reserva também aos advogados, é preciso identificar já agora as principais competências, para desenvolver esses potenciais.
A lista pode incluir oratória, negociação, marketing pessoal, marketing jurídico, networking, o que for. Caso seja difícil identificá-las por si, é possível fazer um teste para identificá-las no VIA – Institute on Character.
5. Nichos de atuação
Conhecer as oportunidades de atuação na advocacia colabora até para ampliar a visão. O Direito é tão abrangente que dentro de uma mesma área de atuação é possível escolher somente um foco para centrar a carreira.
O que é preciso é identificar o nicho com que se detém maior afinidade para construir a aderência necessária para que a carreira guiada por esse caminho gere satisfação e flua em conformidade com o propósito e os valores.
Um resgate que pode ser feito é lembrar o que, na época da graduação, despertava o maior interesse e facilidade de domínio e compreensão. Esse pode ser o começo necessário para a definição do nicho de atuação.
6. Planejamento e ação
Faz parte do planejamento definir cada etapa a ser completada até alcançar o objetivo. A definição dessas etapas pode iniciar pelas seguintes perguntas:
- O que é preciso para chegar lá?
A resposta pode incluir desde cursar uma pós-graduação ou um mestrado, à entrada em um doutorado ou MBA. Às vezes, o que é preciso é desenvolver algumas competências que permanecem inertes.
Esse planejamento não precisa ser uma grande coisa. Só precisa funcionar como um roteiro. Pode ser feito em uma folha de papel simples. É só colocar nela o título: Gestão de Carreira, o que fazer para chegar lá e traçar uma linha. O ponto inicial é onde se está. O ponto final é onde se quer chegar. Entre um e outro, pontuar o que deve ser feito, como será feito e em quanto tempo essa etapa será concluída. Os prazos são importantes para se comprometer com a meta. Claro que se for necessário, podem ser ajustados. No entanto, quanto menos esse ajuste for necessário, mais rapidamente o planejamento será executado.
Tudo, também, depende de foco. Por isso, uma sugestão: usar essas dicas para o advogado que quer ser mais produtivo na hora de por em ação o planejamento. Afinal, não existe gestão de carreira no escritório de advocacia que sobreviva à falta de foco. Mantenha o seu!